sábado, 24 de setembro de 2011

A Questão Christie e a Moral do Brasil no Império (Parte II)

Em 1862, um grupo de marinheiros embriagados estavam a fazer arruaças pelas ruas da capital do Brasil na época, o Rio de Janeiro. Acontece que esses marinheiros estavam à paisana e não eram brasileiros, mas ingleses. Os marinheiros foram presos, pois estavam a perturbar a ordem pública.

Outro incidente ocorrido, para agravar a situação diplomática entre os dois impérios (Brasil e Inglaterra), foi o naufrágio do navio inglês "Prince of Wales", na costa da província do Rio Grande do Sul, tendo sua carga sido perdida, talvez roubada.

Quando soube do ocorrido, o plenipotenciário inglês, William Dougal Christie, decidiu tomar suas atitudes. Exigiu do Imperador D. Pedro II pedidos de desculpas pelo fato ocorrido e uma indenização pela perda da carga do navio. O nosso Imperador, não concordando com a situação, negou-se a atender tais exigências, o que fez com que Christie tomasse atitudes mais drásticas, acirrando os ânimos de todos.

O aprisionamento de alguns navios mercantes brasileiros pelo subordinado da Rainha Vitória revoltou os brasileiros, e logo, na Baía de Guanabara, podiam ser vistas as naus britânicas apontando seus canhões para os passageiros das barcas de Niterói.

O povo sabia que a violência inglesa não era justa, e correram até o Paço da Cidade para encontrar o Imperador, que estava reunido com o Conselho de Estado. Milhares pediam a D. Pedro que não se demorassem as represálias às atitudes do embaixador inglês. Afinal, a honra do Brasil estava em jogo.

As palavras de D. Pedro II foram essas:
"- Calma, calma, senhores! Eu sou primeiro que tudo brasileiro, e como tal, mais do que ninguém, estou empenhado em manter ilesas a dignidade e a honra da Nação. E assim como confio no entusiasmo do meu povo, confie o povo em mim e no meu Governo, que vai proceder como as circunstâncias requerem, mas de modo que não seja ultrajado o nome de brasileiros, de que todos nos ufanamos. Onde sucumbirem a honra e a soberania da Nação, eu sucumbirei com elas. Confiem no meu Governo, e fiquem certos de que sem honra, não quero ser Imperador!"

O Imperador cercado pelas pessoas que desaprovavam
as atitudes do embaixador inglês.

Quadro: Estudo para a Questão Christie (1864)
de Victor Meirelles

O que fez D. Pedro II? O que aconteceu com a relação diplomática dos dois países? O Brasil cedeu às pressões da principal potência do planeta da época, e detentora da mais poderosa frota marítima? Aguardem a próxima postagem! :)

sábado, 17 de setembro de 2011

A Questão Christie e a Moral do Brasil no Império (Parte I)

Caros leitores,

hoje inicia-se uma nova série de postagens deste Blog. O objetivo é relatar com fatos (muitas vezes escondidos pela História tradicional) o embate diplomático entre o Brasil Império e a maior potência do planeta da época, a Inglaterra. Embate este que provocou o rompimento das relações diplomáticas entre os dois impérios e que mostrou a dignidade a qual o Brasil, bem como seu Imperador, D. Pedro II, gozavam.

Antes de conhecermos mais sobre o que foi a Questão Christie, é interessante compararmos a moral que o Brasil tinha naquele tempo, com a que usufruímos hoje. Outros países, atualmente, nos vêem apenas como o país do futebol e carnaval (mesmo nós brasileiros costumamos seguir essa máxima). Promiscuidade no carnaval, "jeitinho brasileiro" em todos os âmbitos da sociedade, brasileiros sendo deportados e impedidos de entrar em alguns países como a Espanha (em casos que não havia nada de errado com a documentação das pessoas), piadas de comediantes internacionalmente famosos sobre as drogas no nosso país... enfim, se ilude quem pensa que brasileiro é bem visto no mundo inteiro. Se ilude mesmo!

O Brasil precisa recuperar sua dignidade enquanto Nação soberana! Nunca a recuperaremos enquanto tivermos chefes de Estado corruptos e que não dão o exemplo. Isso, para mim, é fato! Uma República Parlamentarista não resolveria o problema. Imaginem um Chefe de Estado e um Chefe de Governo de partidos opostos... A confusão ia ser grande e praticamente nada funcionaria.

Em uma Monarquia Parlamentar, o Chefe de Estado sendo o Imperador (pessoa indicada para o cargo, pois vem de uma família cuja vida pública é conhecida e educado desde cedo para assumir tal função), alguém supra partidário que não deve sua posição a nenhum partido político, apenas ao Povo, do qual é representante maior, temos a chance de ter alguém que represente bem o Brasil e seu povo fora do país e que sirva de exemplo e modelo de cidadão a ser seguido pelos outros.

A partir da próxima postagem, entenderemos melhor como essa moral pode influenciar um povo inteiro. Termino esta postagem com a frase de Monteiro Lobato sobre essa honra no Trono brasileiro:

"O juíz era honesto, se não por injunções da própria consciência, pela presença da Honestidade no trono. O político visava o bem público, se não por determinismo de virtudes pessoais, pela influência catalítica da virtude imperial. As minorias respiravam, a oposição possibilitava-se: o chefe permanente das oposições estava no trono. A justiça era um fato: havia no trono um juiz supremo e incorruptível."

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Independência ou Morte!

 D. Pedro I

Ele foi um português de sangue Real e um brasileiro por escolha, bem como sua esposa D. Leopoldina, arquiduquesa da Áustria que adotou o Brasil (e foi adotada pelo povo) como seu país. O casal que deu a real origem as cores da nossa Bandeira (Verde, Casa Real dos Bragança; Amarelo, Casa Real dos Habsburgo), formaram, junto com o povo, o 1º Império dos Trópicos na América: o BRASIL. "Ele" era D. Pedro de Bragança e Bourbon.

Para quem não sabe, D. Leopoldina foi uma das maiores incentivadoras em prol da Independência do Brasil. Em outra oportunidade falarei mais sobre ela aqui no Blog. Como não posso comentar muitos pormenores sobre o processo de separação política do nosso País, limito-me hoje a comentar sobre o grande 7 de setembro.
D. Leopoldina

D. Pedro, então Príncipe Regente, vinha tomando decisões que desagradavam as Cortes Portuguesas, que já haviam partido de volta para Portugal. Em 09 de janeiro do ano da Independência, um documento organizado pelo Partido Brasileiro juntou nove mil assinaturas pedindo ao Príncipe que se negasse a obedecer as ordens vindas do Reino Português que exigia sua volta imediata. Ao ler o documento, D. Pedro assentiu em permanecer no Brasil. Foi neste dia e episódio que D. Pedro proferiu àquela frase: "Se é para o bem de todos, e para a felicidade geral da Nação, estou pronto! Diga ao Povo que eu fico!". Os contemporâneos estavam presenciando um dia que entraria para a História como um dia de importante avanço rumo à Independência. Era o Dia do Fico.

Aos poucos, as ações de D. Pedro mostravam claramente sua coragem e bravura de lutar contra as amarras de Portugal. A partir daí, o Príncipe demitiu o todo o Ministério composto por portugueses e admitiu um novo, composto só por brasileiros, sob a chefia de José Bonifácio.

Já em maio de 1822, D. Pedro decidiu que qualquer ordem que chegasse de Portugal ao Brasil só seriam executadas se houvesse sua expressa autorização. Em junho convocou uma Assembleia Constituinte, ou seja, o recado estava claro: o Brasil teria suas próprias leis, não mais estaria subordinado às leis portuguesas. Foi por essas e outras que D. Pedro recebeu o título de Defensor Perpétuo do Brasil pela Câmara do Rio de Janeiro.

No dia 07 de setembro de 1822, D. Pedro voltava de Santos e o correio lhe alcançou. Recebeu três cartas. Uma delas era de seu pai, o Rei D. João VI de Portugal, que exigia seu imediato retorno para a Europa sob pena do Brasil ser invadido por tropas portuguesas. Outra carta era de José Bonifácio, que dizia que chegara a hora do Príncipe tomar uma decisão. A terceira carta era de sua esposa, D. Leopoldina, e lhe aconselhava prudência.

Após ler as cartas, amassá-las e pisoteá-las, D. Pedro montou seu burro (provavelmente), cavalgou até a colina e gritou para sua guarda de honra:

"Amigos, as cortes de Lisboa nos oprimem e querem nos escravizar... Deste dia em diante, nossas relações estão rompidas". Após arrancar a insígnia portuguesa de seu uniforme, o príncipe sacou a espada e gritou: "Por meu sangue, por minha honra e por Deus: farei do Brasil um país livre". Em seguida, erguendo-se nos estribos e alçando a espada, afirmou: "Brasileiros, de hoje em diante nosso lema será: Independência ou morte". Eram 4 horas da tarde de 7 de setembro de 1822.
D. Pedro foi coroado Imperador D. Pedro I e governou o Brasil por quase 10 anos.
O Brasil, depois de 322 anos, estava livre!