quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Do Ser Monarquista


                Este talvez seja o argumento mais difícil de ser explicado relacionado à Monarquia: Por que o Rei é Rei? E é sobre este assunto que proponho estas poucas linhas. Meu objetivo não é dar uma resposta concreta, única e inquestionável, mas a minha mais sincera opinião a esse respeito.

            Sempre que o assunto “Monarquia” vem à tona, algumas questões parecem ser inevitáveis aos brasileiros. Uma delas fruto de uma curiosidade; a segunda cheia de jocosidade (bem ou mal intencionada). “Quem seria o Rei no Brasil?” – Imperador, na verdade – costuma ser um dos primeiros pensamentos transfigurado em indagação por parte dos curiosos. “Por que ele e não eu?”. Essa segunda questão não é sempre que surge. Curiosamente ela só costuma aparecer quando o outro lado não está disposto a entender melhor do que se trata, ou a proporcionar a seriedade que o assunto merece. É justamente sobre essa segunda questão que este texto irá versar.

            “Rei” (do latim Rex) é um Chefe de Estado de uma nação, podendo ser, em alguns casos, também Chefe de Governo. Em séculos passados, era comum que as Monarquias fossem absolutistas (o poder era concentrado nas mãos dos monarcas), e isso terminou por fazer com que a maioria das pessoas desavisadas, pense que a única forma de uma monarquia existir é como aquela que eles estudaram no Ensino Médio. Como estamos falando sobre o sistema monárquico parlamentar constitucional (e é esse sistema que os monarquistas defendem para o Brasil), entendamos aqui o Rei como Chefe de Estado apenas.

            Um Chefe de Estado não é só um “enfeite” de uma Nação. Para tantos, a ideia de “poder” está ligada apenas ao exercício do governo, quando na verdade ignoram o poder de representação. Um Chefe de Estado tem muitas atribuições, e ser o símbolo de uma Nação, representá-la de forma suprapartidária são alguns dos poderes que o cargo lhe proporciona e que os súditos os confiam.  Segundo o pensador suíço Henri-Benjamin Constant de Rebeque (1767 – 1830), o Chefe de Estado deve ser detentor de prerrogativas constitucionais importantes, agindo com o máximo de imparcialidade possível. Seu pensamento acabou por tornar-se, segundo muitos, fundamento do parlamentarismo moderno.  Ora, mas se o Chefe de Estado deve ser imparcial, o que fazer com um representante máximo de uma nação que é filiado a um partido político? Que ideologicamente já está comprometido? Pois assim é um presidente... Ao acumular os dois principais cargos de um país (Chefe de Estado e de Governo), temos uma concentração de poderes que, nas mãos de alguém despreparado, se vira contra o seu próprio povo.

            Ao contrário de um presidente, um rei reúne em si muito mais características necessárias para se ser o Chefe de Estado, a saber: apartidário, preparado desde tenra idade para exercer tal função, reputação ilibada, seus súditos acompanham toda sua trajetória de vida, não depende de partidos políticos para manter o cargo, etc. “Mas não somos nós quem o elegemos!”. “O que o torna legítimo?”. “Por que ele e não eu?

            Ao meu ver, não se pode ser monarquista sem compreender e respeitar a Tradição. E aqui cabe bem uma definição poética do termo, advinda do Pe. Heitor Rossato: “Tradição, antes de tudo, é conhecer para amar.” Um país que respeita suas tradições, o faz porque seus cidadãos conhecem sua própria História. Conseguimos perceber claramente isso em países como Inglaterra, Estados Unidos, Japão, entre outros. Respeitar as tradições não quer dizer nunca mudar. Tradição não é empecilho para o desenvolvimento. Ter tradição é também saber mudar. Nunca jogar fora o que temos de bom e nunca abandonar uma qualidade, ainda que pudéssemos trocá-la por duas outras. “Cultura não se perde, se acumula”, já dizia um grande Professor.

            Pois bem, para responder as perguntas feitas nesse texto, precisamos partir de um pressuposto muito difícil de ser entendido por muitos: ser Rei não é privilégio, é fardo. Ser príncipe não é bônus, é ônus. Argumento muito difícil de ser explicado para alguém muito mais materialista do que espiritualista. É fato que o ser humano parece nunca estar contente com o que tem e sempre quer mais. Depois de muitas discussões com diversas pessoas a esse respeito, percebi que a principal repulsa deles para com a ideia de um rei, é o fato do rei “ter tudo” materialmente. É o fato dele ser “sustentado” pela Nação (repulsa essa mesmo quando o “sustento” desse rei, custa menos do que os políticos republicanos que os governa). Ora, o rei recebe um soldo pela função que exerce, nada mais natural. O fato de seu “cargo” ser vitalício, contribui para minimizar as chances de termos um rei corrupto (ele já tem tudo materialmente) e que busque pensar apenas nas próximas eleições e em manter seu cargo (como acontece no presidencialismo republicano brasileiro). Isto é tão bem pensado, que se pararmos para buscar histórias de reis corruptos (em monarquias constitucionais), não acharemos exemplos para citar. Quanto a políticos “comuns”, falta-nos, muitas vezes, exemplos positivos para citar.

            Enquanto o cidadão encarar com certo ciúme o fato dele não ser “rei” ou “príncipe”, não estaremos prontos para uma monarquia. É preciso grandeza de espírito para se compreender e aceitar que alguém, que não você, desempenha essa função. E isso nos leva a outra pergunta: e por que necessariamente ele? Bem... o melhor argumento que consigo apresentar no momento para essa situação também gira em torno da tradição. Não sei como os primeiros reis foram surgindo... Ou melhor, há várias formas desse surgimento, como por exemplo, a ideia de que aquele homem estava sendo iluminado por Deus, ou porque era a família mais importante da região... os motivos podem ser vários, mas o fato é que hoje a Monarquia é vista de outra forma. Sabemos que não é por “escolha divina” ou por serem os mais ricos do país (nem sempre são), mas por questões tradicionais. Vamos tentar explicar o caso brasileiro: por que os Orleans e Bragança?

            A família Orleans e Bragança (atual dinastia brasileira se fôssemos uma monarquia) tem ascendência nas mais antigas famílias reais do mundo. Apesar de nunca ter reinado (visto que os Orleans e Bragança surgiram da união matrimonial da Princesa D. Isabel do Brasil – Bragança; e do Conde D’Eu de Orleans, sendo seus descendentes os Orleans e Bragança), são remanescentes das mais nobres Casas Reais da Europa, tendo ligações diretas com, por exemplo, Hugo Capeto e Carlos Magno (estamos remontando aí ao século XI e VIII, respectivamente). Nossos ilustres imperadores, D. Pedro I e D. Pedro II, ajudaram a construir o Brasil que temos hoje. Com inúmeras provas de amor pela pátria, tivemos Imperadores que ajudaram, inclusive, a garantir a extensão territorial do Brasil.

            Até hoje, a nossa Família Imperial trata os descendentes desses ilustres personagens históricos, com os valores da tradição incrustados em sua família. Não são príncipes por escolha, mas por tradição. Querer mudar essa tradição depois de tanto tempo, é jogar fora a única coisa que temos enquanto povo: nossa História. E mais, por que trocar uma Família Imperial que tem em si os atributos da realeza, por outra que sequer saberemos de onde vem?  É isso que nossa Família Imperial faz: mantém a tradição.

            Outra explicação que se faz necessária e importantíssima, é sobre o fato de que, em primeiro momento, não são as pessoas (sejam reis ou rainhas) que são reverenciadas numa monarquia, mas sim os “cargos”! Curvar-se diante de um rei, não é curvar-se diante de um homem, é reverenciar e mostrar sinal de respeito a um povo... a uma Nação. Reitero que os pequenos de espírito não conseguem entender isso (foi o que percebi em minhas inúmeras discussões). Se Elizabeth II é, também, admirada, assim como o foi, por exemplo, D. Pedro II, é porque aos poucos foram conquistando os seus povos. O respeito e admiração pela pessoa surge aos poucos. Quando a sociedade acompanha o crescimento de um príncipe e vai, educando-o junto com sua família (elogiando ou recriminando suas atitudes desde a infância), vai-se moldando o caráter e a personalidade de quem um dia irá representar a todos. Por isso é tão comum, na coroação, o rei ou rainha já ser, pessoalmente, bastante respeitado por seu povo. Ao reverenciar um rei, reverencia-se a Nação, o seu passado brioso, as suas glórias, o seu próprio povo. Não é o D. Fulano, é o REI! 

           O Rei, portanto, é um símbolo nacional, tal como o Hino e a Bandeira. Ele é a Nação personificada; e para se ser monarquista, é preciso desapegar-se das vaidades e do egocentrismo, do contrário, seremos "monarquistas" com espírito republicano (no pior uso do termo).

O homem mais poderoso do mundo reverenciando o Imperador Japonês Akihito.
Eis um exemplo de respeito. Obama, republicano oriundo de uma república que funciona, pois é calcada em suas tradições, mostra respeito ao que Akihito represente: o povo do Japão.