sábado, 30 de julho de 2011

O Império Abolicionista (Parte III)

Muitos são os casos ocultados pela História tradicional (leia-se reublicana) que comprovam o ardor com o qual D. Pedro II defendia a liberdade dos escravos. Ora, com isso podemos até comprovar que o Poder Moderador era muito mais um instrumento para se manter o equilíbrio entre os outros poderes e intervir quando os interesses da Nação não estivessem sendo respeitados, do que um instrumento absolutista a ser usado quando o Imperador assim o quisesse. Sendo tão ferrenho defensor da abolição, poderia passar por cima da Constituição e decretar a liberdade de todos. Acontece que a ideia de "instrumento absolutista" também é distorcida. Fato é que quem se der ao trabalho de ler a Constituição de 1824 (única do Império), perceberá que muito provavelmente hoje, o presidente da república dispoe de mais poderes do que o Imperador do Brasil de outrora.

Vejamos mais alguns casos interessantes sobre a relação do Imperador com a questão abolicionista:
"Votava-se no Senado a Lei do Ventre Livre, a 28 de setembro de 1871. Nas galerias repletas, apareciam as figuras mais eminentes do mundo diplomático. A discussão do projeto foi brilhante e vigorosa, sob a presidência do Visconde de Abaeté. Quando se verificou, pela votação, a vitória do Visconde do Rio Branco, que defendera a aprovação da lei, o povo que enchia as galerias irrompeu em manifestações ao grande estadista, lançando-lhe sobre a cabeça braçadas e braçadas de flores.
Terminada a sessão, o embaixador dos Estados Unidos, James Rudolph Partridge, desceu ao recinto para felicitar o presidente do Conselho e os senadores que haviam votado o projeto. Conlhendo algumas flores, das que o povo atirara a Rio Branco, declarou:
- Vou mandar estas flores ao meu país, para mostrar como aqui se fez, deste modo, uma lei que lá custou tanto sangue.
Foi em Alexandria, no Egito, que D. Pedro II soube que em seu vasto Império, a partir de 28 de setembro de 1871, todas as crianças nasceriam livres. O Visconde de Itaúna, camarista de D. Pedro, anotou em uma carta:
- Eu nunca vi o Imperador tão satisfeito."¹

Alguns dizem que o Imperador foi o emancipacionista "mais pertinaz e mais constante que o Brasil possuiu" (Bibiano Xavier, 1991).
Além de ter libertado os 40 escravos que recebeu de herança ainda aos 14 anos, tomou emprestado a quantia de sessenta contos de réis e entregou a seu mordomo para comprar anonimamente um lote de escravos. Em seguida libertou-os e os empregou no serviço da imperial quinta de Santa Cruz, dando-lhes salário mensal, assistência médica e educação dos filhos.

Ainda favoreceu a libertação dos escravos que decidissem lutar na Guerra do Paraguai e libertou às suas custas as mulheres e filhos (assegurando a educação destes) dos defensores da Pátria da Fazenda de Santa Cruz.

Por fim (desta terceira parte, que não será a última) gostaria de transcrever um trecho do livro que já citei em post anterior: Revivendo o Brasil Império:

"Quando foi promulgada a Lei Áurea, D. Pedro II se encontrava em Milão, gravemente enfermo. Fora atacado de uma pleurisia, complicada febre palustre. Os médicos aconselharam a ocultar do paciente as notícias que chegavam do Rio diariamente.
A 22 de maio os médicos perderam as esperanças de salvá-lo, e declararam à Imperatriz que chegara o momento de chamar o sacerdote. O arcebispo de Milão assistiu D. Pedro II, que após a confissão recebeu os últimos sacramentos da Igreja Católica. Ele estava de tal modo enfraquecido, que mal podia falar.
A Imperatriz achou conveniente, então, informá-lo da grande notícia recebida no dia 13. Imediatamente seu olhar se reanimou.

- Não há então mais escravos no Brasil?
- Não. Votou-se a lei em 13 de maio. A escravidão foi abolida.
- Rendamos graças a Deus! Telegrafem imediatamente à Isabel, enviando-lhe a minha bênção com os meus agradecimentos à Nação e às Câmaras.

Depois voltou-se ligeiramente. Os que o cercavam julgaram que estivesse moribundo. Mas seu patriotismo deu-lhe forças para pronunciar estas tocantes palavras:

- Grande povo! Grande povo!...

E correram lágrimas de seus olhos.
A alegria profunda que sentiu, ao saber que todos os seus súditos seriam livres para o futuro, produziu em todo o seu ser uma comoção eficaz e salutar. Desde então se acentuaram as melhoras. Aos poucos desapareceu o perigo, e ele não tardou a restabelecer-se."²

__________
1 - MOSSÉ, Benjamin. Vida de Dom Pedro II. Cultura Brasileira, SP, 1889, p.322.
2 - XAVIER, Leopoldo Bibiano. Revivendo o Brasil Império. Artpress, São Paulo, 1991.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O Império Abolicionista (Parte II)

Foi durante o Segundo Império (1840 - 1889) que as diversas leis que proibiram o tráfico de escravos e foram, aos poucos, libertando-os, ganharam forma e corpo. Acontece que D. Pedro II e a Família Imperial não tinham razões para apoiar a escravidão. Os que apoiavam eram os donos de escravos, na maior parte, latifundiários. 

Vejamos alguns fatos curiosos que comprovam o não apoio à escravidão por parte da Família Imperial.

É fato que D. Pedro II não possuía escravos que trabalhassem para ele, preferia o trabalho assalariado, bem como o fazia a Princesa Isabel. Possuía amigos negros, inclusive seu tutor desde a infância, o afro-brasileiro Rafael, veterano da Guerra da Cisplatina (Rafael viria a falecer em 15 de novembro de 1889, com mais de 80 anos, quando soube que o Imperador seria exilado do Brasil). O engenheiro André Rebouças, também negro, autoexilou-se à época da proclamação da república, em solidariedade. Em um período onde era comum o entendimento científico de que existia de fato uma separação racial entre brancos, negros e amarelos, o Imperador sempre demonstrou um profundo ceticismo quanto a tal teoria e nunca se deixou convencer pela tese de diferenciação racial.¹
 
Quando foi declarado maior de idade, aos 14 anos, recebeu de herança 40 escravos e mandou libertar todos.²

[A seguir, trecho do livro "Revivendo o Brasil Império"]
 
O literato e diplomata argentino Hector Varela ouviu do Imperador:
- A escravidão! Acredita o senhor que haja no Brasil algum compatriota que deseje mais ardentemente do que eu a abolição? Nenhum! E os primeiros a saber como eu penso são os que trabalham à frente do belo movimento de emancipação. Alguns me atacam, com marcada injustiça, afirmando que eu retardo a hora, que no entanto será a mais feliz do meu reinado, em que não haja um só escravo em minha Pátria, e que o último desses infelizes seja tão livre quanto eu."³

(...)[Ainda no mesmo livro]
 
Em 1850, quando se discutia a lei de repressão do tráfico de escravos, e se mostrava ao Imperador os perigos a que a lei exporia o trono, D. Pedro II, então com 25 anos, replicou com energia:
- Prefiro perder a coroa a tolerar a continuação do tráfico de escravos.

______
Fiquem atentos às próximas postagens... há muito mais a ser dito para desmistificar a ideia de "Império escravista".
 
 
1 - LOEWENSTAMM, Kurt. Imperador D. Pedro II: O Hebraísta no Trono do Brasil. Centauro, 2002.
2 - Loewenstamm, 2002.
3 - XAVIER, Leopoldo Bibiano. Revivendo o Brasil Império. Artpress, São Paulo, 1991.

sábado, 16 de julho de 2011

O Império Abolicionista (Parte I)

 
Caros leitores,

muitos hão de estranhar o título desta postagem "O Império Abolicionista", visto que é muito comum escutarmos ou lermos a expressão "O Império Escravista". A intenção desse post então, é apresentar-lhes fatos e argumentos que a doutrinação do ensino republicano não lhe deu chances de conhecer. Como o assunto é interessante e, por que não, polêmico, haverá continuação deste assunto em postagens seguintes.

Antes de mais nada, não houve cidadão mais interessado na abolição dos escravos do que Sua Majestade D. Pedro II (Acompanhe as próximas postagens). Acontece que os escravos, desde a época colonial, formavam a base da economia brasileira. Por mais estranho que possa apresentar-se esta ideia, libertar os escravos sem mais nem menos, sem um plano para tal, levaria o país ao buraco, economicamente.

Já foi dito e repetido neste blog que a propaganda anti-monárquica no pós golpe republicano foi e é muito forte. Pensemos por exemplo que uma das causas da queda do Império foi a abolição da escravidão. A Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, serviu para que os grandes proprietários de terras, donos de escravos, se juntassem ao ínfimo grupo do exército e ajudassem na proclamação da repúplica. Ou seja, sempre pressionou-se o Império a abolir a escravidão. Quando isso aconteceu, um ano depois, a Monarquia sofre um golpe e é derrubada do poder. As pessoas até conhecem isso, mas parece que não raciocinam sobre.

Nas próximas postagens veremos alguns fatos que comprovam a ação abolicionista de D. Pedro, da Princesa Isabel, confrontaremos a criação de personagens idealizados como Zumbi dos Palmares e mostraremos, "por A + B", que o Império era Abolicionista! Aguardem...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Uma Rainha ou 11 Presidentes?

Caros leitores,

 hoje irei alertá-los, uma vez mais, para o fato da importância do cargo de Chefe de Estado estar separado do cargo de Chefe de Governo. (Se você não viu as outras postagens sobre isso, CLIQUE AQUI)

Lembro-lhes que um Chefe de Estado desempenharia com excelência sua função se, desde tenra idade, fosse educado para isso. É o caso dos Reis e Rainhas. Quando se cresce aos olhos da Nação e se vai, aos poucos, desenvolvendo habilidades para tal, não resta dúvida de que as chances de um Chefe de Estado agir de forma inconsequente são drasticamente diminuídas. Conhecer melhor seu país, os problemas (econômicos e sociais) que o aflinge, o seu povo, sua História... tudo isso é prioridade para o Príncipe que torna-se capaz de assumir o trono desde pouca idade.

A citar um exemplo brasileiro, D. Pedro II, que assumiu o cargo de Imperador entre seus 14 e 15 anos de idade. A Constituição brasileira na época teve que ser alterada para não se passar por cima de lei, respeitando assim os princípios democráticos então vigentes. O mais curioso é que o grupo que tomou a iniciativa de antecipar a maioridade de Pedro de Alcântara, para que ele pudesse assumir, não agiu corretamente nas chamadas Eleições do Cacete, obrigando o jovem Imperador do Brasil a destituí-los de seus cargos e convidar a oposição para assumir. Ora, não importa se os chamados liberais ajudaram na maioridade antecipada de D. Pedro II, um Imperador não governa pelos seus interesses, e sim pelos interesses da Nação. É a prova de que quando se é educado para tal fim, as chances de se "construir" alguém incapacitado para exercer tal função, é pequena.

Vamos ao exemplo da Monarquia mais conhecida atualmente: O Reino Unido.

A Rainha Elisabeth II já ocupa a Chefia do Estado há quase 60 anos, e ela, por estar há tanto tempo no cargo, é a pessoa mais indicada a representar o povo britânico. Até hoje, para as decisões importantes serem tomadas no Reino, principalmente no que diz respeito à saúde, educação e mesmo política, assuntos que dizem respeito diretamente ao povo, devem antes passar pela experiência e conhecimento da Rainha.

Afinal, para ocupar a Chefia de Estado da Grã-Bretanha quem seria melhor? A Rainha ou onze diferentes presidentes? (A comparação também serve ao Brasil, visto que D. Pedro II ocupou o cardo de Imperador por 49 anos e saiu quando foi destronado num golpe contra a Constituição)

→ Onze homens (Presidentes dos EUA) x Uma Rainha
Quem conhece melhor seu povo?

A Rainha e Barack Obama

A Rainha e George W. Bush

A Rainha e Bill Clinton

A Rainha e George Bush (pai)

A Rainha e Ronald Reagan

A Rainha e Jimmy Carter

A Rainha e Gerald Ford

A Rainha e Richard Nixon

 A Rainha e John Kennedy

 A Rainha e Dwight Eisenhower

A Rainha e Harry Truman